terça-feira, março 25, 2008

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"[...]Aspiramos aos instantes de completo abandono, aos instantes de solidão brutal e sublime com toda a intensidade da sua esperança e todo o ardor dos seus olhos, partilhamos um segredo perigoso, fomos iniciados no modo de emprego de um veneno temível chamado solidão e, como morfinómanos, dividimos duravante a vida em dois períodos: a embriaguez e a recuperação. Mas que podemos realmente inventar quando vivemos metidos no nosso buraco? teremos de arranjar amigos intímos? Não, porque receamos e, sem dúvida, com razão, que o facto de termos um amigo íntimo, mesmo que íntimo tome apenas um sentido relativo, nos deixe na incómoda posição inicial, tornando-se as possibilidades de sermos projectados no grande espaço frio cada vez mais raras. Por isso teremos que conservar as pessoas a certa distância - o que, aliás, não é difícil graças ao vidro ou membrana que nos envolve. Arranjaremos, então, uma amante? Sim, mas unicamente para a aterrarmos na devida altura com o nosso frio, para a lervarmos a ter-nos ódio, a repelirmos com mãos de gelo, a ferir-nos com raiva e a antecipar-se-nos lançando-nos a cabeça no espaço, porque é a isso justamente que aspiramos - obrigado![...]"

Dagerman

1 comentário:

Princesa Desalento disse...

"Estou sozinho de olhos abertos para a escuridão. estou sozinho.
estou sozinho e nunca aprendi a estar sozinho. estou sozinho.
sinto falta de palavras. estou sozinho. estou sozinho.
sinto falta de uns olhos onde possa imaginar. estou sozinho.
sinto falta de mim em mim. estou sozinho. estou sozinho.
estou sozinho."

José Luis Peixoto, in "A criança em ruínas"